Corrupção na administração pública: causas, tipos e consequências

Na foto, uma pessoa está assinando um documento enquanto outra oferece uma quantia em dinheiro, sugerindo uma situação que pode estar relacionada a suborno ou corrupção. Reprodução: 89STOCKER/Envato.
Descubra o impacto da corrupção na administração pública, os principais tipos e as estratégias legais e institucionais para combatê-la.

A corrupção rende ao Brasil um de seus principais traumas, sendo um fenômeno que afeta profundamente o funcionamento das instituições públicas, ferindo a eficiência administrativa, a confiança da população e a justiça social. 

Embora não seja uma problemática restrita ao Brasil, a corrupção ganha contornos especialmente graves em países com elevados níveis de desigualdade social e fragilidade institucional. 

Para enfrentar essa mazela, é imperativo compreendê-la em sua totalidade, abordando seus diversos tipos, suas causas e as possíveis estratégias de mitigação e enfrentamento.

Aqui vamos explorar desde o conceito de corrupção até seus desdobramentos na administração pública, as implicações legais e as formas de combatê-la

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O que é Corrupção?

Corrupção nada mais é do que o desvirtuamento do poder, seja ele público ou privado, para a obtenção de vantagens indevidas, em detrimento do bem comum. 

Esse conceito abarca um amplo rol de práticas ilícitas, desde o suborno, o peculato e a concussão, até formas mais sutis de abuso de poder, como o favorecimento de grupos privados em prejuízo do interesse público. 

Na administração pública, a corrupção não se resume a atos isolados de desvios de conduta individuais; ela reflete um complexo fenômeno que envolve relações estruturais e institucionais, onde lacunas normativas e culturais podem perpetuar comportamentos corruptos.

Do ponto de vista teórico, a corrupção pode ser analisada sob diferentes prismas: como um problema moral, uma falha institucional ou, em alguns casos, uma resposta perversa à rigidez de determinados processos burocráticos

O que une essas abordagens é o reconhecimento de que a corrupção degrada as normas éticas, compromete a eficiência administrativa e deturpa a função precípua das instituições, que é servir à coletividade. 

Não se trata apenas de um ato de transgressão das leis, mas uma falha sistêmica que impede o desenvolvimento justo e sustentável das sociedades, minando as bases da democracia e da justiça.

Quais são os tipos de corrupção na administração pública?

A corrupção generaliza uma série de condutas tipificadas pelo Código Penal e pela legislação extravagante como crimes contra a administração pública. Abaixo abordaremos os principais tipos penais associados a ela:

Corrupção ativa

Corrupção ativa ocorre quando uma pessoa oferece ou promete uma vantagem indevida a um agente público para que este pratique, omita ou retarde um ato de sua função. É um ato que parte da iniciativa de quem suborna.

Corrupção passiva

a corrupção passiva envolve o servidor público que aceita ou solicita vantagem indevida, valendo-se de seu cargo para realizar ações que beneficiam o corruptor. Nessa modalidade, o servidor é corrompido, comprometendo sua integridade e as normas éticas de sua função.

Peculato

Peculato é quando o servidor público se apropria de bens ou valores pertencentes ao Estado ou a terceiros, utilizando sua posição para obter vantagens indevidas. Esse crime também pode ocorrer quando há desvio de recursos públicos em benefício próprio ou de terceiros.

Concussão

A concussão ocorre quando um servidor público exige vantagem indevida de alguém, utilizando sua autoridade para intimidar ou coagir. É uma prática que fere profundamente a confiança pública, pois envolve abuso explícito de poder.

Prevaricação

A prevaricação é um crime caracterizado pela omissão ou retardamento intencional, por parte de um servidor público, de um ato de ofício, com o objetivo de satisfazer interesse pessoal ou de terceiros. 

Diferente da corrupção ativa ou passiva, a prevaricação não envolve o recebimento de vantagens materiais, mas a inação deliberada que favorece interesses particulares.

Advocacia Administrativa

A advocacia administrativa ocorre quando um funcionário público patrocina, direta ou indiretamente, interesses privados perante a administração pública, valendo-se de sua posição de influência. 

Este crime configura uma grave violação ao princípio da impessoalidade, pois o agente público utiliza sua função para beneficiar um particular em detrimento do interesse público, em evidente conflito de interesses.

O que diz a Legislação?

A legislação brasileira trata de forma abrangente os crimes contra a administração pública e os atos de improbidade, estabelecendo penalidades tanto para os atos de corrupção quanto para outros tipos de desvios funcionais. 

Entretanto, apesar da amplitude do arcabouço jurídico, existem distorções importantes no que tange às penalidades aplicadas. Em muitos casos, as penas previstas são significativamente baixas, não refletindo a gravidade das infrações cometidas. 

Isso é particularmente evidente em crimes como a prevaricação, cuja pena mínima é de apenas três meses de detenção. Embora esse crime afete diretamente a eficiência e a moralidade da administração pública, sua punição tende a ser desproporcional, o que agrava a sensação de impunidade.

Outro exemplo de distorção está na corrupção passiva, que possui pena mínima de dois anos de reclusão. 

Embora o delito envolva a solicitação ou aceitação de vantagens indevidas por parte de servidores públicos, a aplicação da pena pode, em muitos casos, ser suavizada, especialmente quando o réu é primário ou quando o montante envolvido é considerado “baixo”. 

O mesmo se observa em crimes como o peculato, cuja pena mínima de dois anos, em alguns casos, não reflete adequadamente o prejuízo causado ao erário público e à confiança institucional.

Essa disparidade entre a gravidade do crime e a leveza da pena também gera uma percepção negativa entre a população, contribuindo para o enfraquecimento da confiança no sistema de justiça.

O aumento da proporcionalidade nas sanções, associado a uma maior celeridade processual, pode ser um caminho para aprimorar o combate à corrupção no país.

Quais as principais causas da corrupção na administração pública?

A corrupção é um fenômeno que pode ser compreendido pela análise de diversos fatores ou causas. Entre as principais, podemos citar:

Fragilidade das instituições

Organizações públicas com falhas em seus sistemas de controle são mais suscetíveis à corrupção. A falta de transparência, quando crônica, pode ser indicativo de irregularidades.

Processos morosos

A morosidade de alguns processos pode incentivar atos corruptos como forma de acelerar ou garantir serviços. Popularmente, é sintetizado pela máxima “criar dificuldades para vender facilidades”.

Cultura de Impunidade

Quando os responsáveis por atos ilícitos não são punidos adequadamente, cria-se um ambiente propício para a repetição dessas condutas.

Quais são as consequências da corrupção na administração pública?

As consequências da corrupção na administração pública são amplas e profundamente nocivas, afetando não apenas o funcionamento das instituições, mas também a confiança da sociedade no Estado e a qualidade dos serviços prestados à população. 

Um dos principais impactos reside na ineficiência administrativa. Recursos que deveriam ser aplicados em áreas essenciais, como saúde, educação e infraestrutura, são desviados ou mal empregados, resultando em serviços de baixa qualidade e em prejuízos diretos à população. 

Outro efeito crítico da corrupção é o enfraquecimento da transparência e da governança no setor público. Quando processos decisórios são contaminados por práticas corruptas, a transparência é severamente comprometida, dificultando o controle social e a fiscalização por parte da sociedade e dos órgãos de controle. 

Essa nebulosidade não apenas permite que a corrupção se perpetue, mas também desestimula iniciativas de modernização e reforma das instituições, que ficam presas a ciclos de ineficiência e desvios éticos.

A corrupção também impõe altos custos econômicos, tanto diretos quanto indiretos. Empresas que buscam operar em mercados marcados por corrupção muitas vezes enfrentam barreiras adicionais, como subornos e extorsões, que aumentam seus custos operacionais e reduzem a competitividade.

Em suma, a corrupção não apenas prejudica a administração pública em termos imediatos, mas também compromete o futuro das instituições e o desenvolvimento da sociedade, impedindo a promoção de uma cultura de integridade e eficiência.

Como evitar a corrupção na administração pública?

A prevenção da corrupção requer ações coordenadas que fortaleçam as instituições e a cultura ética. Aqui estão algumas medidas fundamentais:

Siga os princípios da administração pública

Os princípios da administração pública são fundamentais para qualquer servidor. Legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência são as bases que devem amparar todos os atos e conduta dos servidores públicos.

Fortaleça as instituições

Investir em sistemas de controle interno e auditoria é indispensável para prevenir desvios e detectar irregularidades. A separação de poderes, pelo viés da apreciação judicial e imposição de penas, observado o devido processo legal, merece destaque.

Implemente políticas de transparência

A transparência é um dos principais remédios quando se trata de combate à corrupção. Tornar os processos decisórios e a execução de políticas acessíveis ao público inibe comportamentos corruptos, por isso a importância de cumprir a Lei de Acesso à Informação.

Promova educação e conscientização

A formação ética e a conscientização sobre os prejuízos da corrupção devem ser parte da cultura organizacional desde o recrutamento dos novos servidores.

Incentive a participação cívica

A sociedade civil, por meio da participação cívica, também deve exercer seu papel na fiscalização das ações do poder público. Canais de denúncia, ouvidorias, conselhos municipais e outros mecanismos de participação popular ajudam a manter a administração pública sob vigilância.

Conclusão

A integridade na gestão pública é essencial para promover um ambiente ético e garantir que os recursos públicos sejam usados de forma justa e eficaz.

A corrupção, por sua vez, é um problema complexo, mas sua erradicação é possível desde que haja um esforço conjunto entre governo, instituições e sociedade. 

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