Entenda o que é mobilidade social e como ela funciona na prática

Mobilidade social. Foto: iLixe48/Envato.

A mobilidade social é uma característica primordial de uma sociedade justa e equitativa porque permite que os indivíduos cresçam a partir das suas circunstâncias iniciais e alcancem a mobilidade crescente por meio das suas competências e capacidades. Além disso, ajuda-os a não ficarem restringidos por fatores como classe social, etnia ou gênero.

A capacidade de subir na escala social é fundamental para a prosperidade socioeconômica do coletivo, reduz a disparidade de riqueza e gera uma distribuição mais equitativa dos recursos e oportunidades sociais.

Entenda o significado de mobilidade social, como surgiu esse conceito e como essa mudança foi se desenvolvendo ao longo da história. 

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O que é mobilidade social?

A mobilidade social refere-se à mudança na situação socioeconômica de pessoas, famílias ou grupos, em um sistema social hierárquico, geralmente determinado pela estratificação social. As pessoas podem experimentar diferentes tipos de mobilidade em diferentes fases das suas vidas. 

Existem dois tipos de mobilidade social, vertical e horizontal, independentes entre si e que muitas vezes podem se sobrepor. 

Mobilidade social vertical

A mobilidade social vertical pode ser crescente ou decrescente e se refere a uma mudança no status ocupacional, político ou religioso de uma pessoa, que causa uma alteração em sua posição social (subindo ou descendo na hierarquia social). Um indivíduo passa de um estrato social para outro. 

Crescente

Envolve a passagem de um indivíduo de um grupo de um estrato inferior para um estrato superior ou a criação de um grupo semelhante com uma posição social mais elevada, em vez de ficar lado a lado com o grupo existente. 

Por exemplo, se uma pessoa nascida em uma família cujos membros recebem baixos salários consegue atingir um rendimento mais elevado e um estatuto social melhor do que os seus pais, isso é considerado mobilidade vertical crescente.

Decrescente

Já a mobilidade vertical decrescente ocorre quando uma pessoa passa de uma posição superior na sociedade para uma inferior. Por exemplo, quando um empreendedor sofre perdas em seu negócio e é forçado a declarar falência, resultando em uma mudança para um estrato mais baixo da sociedade.

Mobilidade social horizontal

Ocorre quando uma pessoa muda de ocupação, mas sua posição social geral permanece inalterada. Por exemplo, se um advogado deixa de exercer a advocacia e passa a dar aulas de Direito em uma universidade, a profissão muda, mas o seu prestígio e posição social permanecem provavelmente os mesmos. 

Segundo o sociólogo Pitirim Sorokin, a mobilidade horizontal é uma mudança de religião, localização, ideologia política ou outras modificações horizontais, sem alteração na posição vertical.

Como surgiu esse conceito?

Sorokin, sociólogo e ativista político americano nascido na Rússia, introduziu pela primeira vez o conceito de mobilidade social em seu livro “Mobilidade Social e Cultural”, no qual afirma que não existe sociedade completamente aberta (como o sistema de classes) e nenhuma sociedade completamente fechada (como o sistema de castas na Índia).

As fontes e causas da mobilidade social incluem educação, profissão, rendimento, raça, gênero, capital social, políticas públicas e programas governamentais. A mobilidade tem implicações importantes para a sociedade, incluindo o desenvolvimento econômico, a coesão social e a desigualdade.

Mobilidade social ao longo da história

Acompanhe como a mobilidade social foi se apresentando ao longo dos anos, do sistema de castas aos dias atuais.  

Sistema de Castas

O sistema surgiu entre 1500 a.C. e 600 a.C. Um exemplo de religião que aplica esse sistema é a hindu, presente em países como a Índia.

A mobilidade social praticamente não existe em uma sociedade que funciona com um sistema de castas devido à rigidez de sua estrutura, com cada pessoa tendo sua casta definida em seu nascimento.

Em 1950, com a reforma da Constituição Indiana, a discriminação baseada em castas passou a ser proibida. Apesar disso, como a maioria da população segue a religião hindu, ainda hoje o sistema de castas continua presente na sociedade indiana.

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Feudalismo

Durante a Idade Média, a Igreja ocupava o topo da estrutura social, seguida pela nobreza, que se dividia em alta nobreza e pequena nobreza, e, por último, vinham os camponeses, que representavam a maior parte da população feudal.

A mobilidade estava presente nas sociedades feudais, mas era muito limitada. 

Sociedade contemporânea

Com a Primeira Revolução Industrial e o aparecimento da sociedade capitalista, a sociedade passou a ser dividida levando-se em conta principalmente a condição socioeconômica dos indivíduos.  

No sistema atual, as pessoas que possuem melhores condições financeiras têm acesso a benefícios que geralmente não estão disponíveis para os menos favorecidos, como educação de qualidade, boas oportunidades de vida e de emprego, entre outros. Por isso, o ciclo da desigualdade se mantém.

Mobilidade social no Brasil

Segundo estudo publicado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 2018, a mobilidade social no Brasil é uma das mais restritas do mundo, com o país figurando como o segundo pior em mobilidade social entre as 38 nações que participam da organização.

O estudo revelou ainda que podem ser necessárias nove gerações para que os descendentes de uma família de baixa renda atinjam a renda média. Em comparação, a média dos países que compõem a OCDE é de cerca de cinco gerações. 

O índice de mobilidade social considera 10 pilares para a sua análise: acesso à saúde e educação, qualidade e equidade da educação, proteção social, acesso à tecnologia, distribuição justa de salários, condições de trabalho, oportunidades de trabalho, aprendizado ao longo da vida e instituições inclusivas.

No Relatório Global de Mobilidade Social de 2020 do Fórum Econômico Mundial, o Brasil ocupa a 60ª posição no ranking de mobilidade social entre 82 países.

O país obteve a menor nota no pilar distribuição justa de salários: 36 pontos. Enquanto a maior nota foi no pilar acesso à tecnologia, com 68 pontos. O relatório concluiu que uma pessoa de baixa renda no Brasil levaria nove gerações para atingir a renda mediana da população brasileira.

Qual é o papel dos municípios?

É papel da União, estados e municípios analisar os fatores que facilitam ou dificultam a mobilidade social, como as políticas públicas, a educação, a transição demográfica, o mercado de trabalho e as redes de apoio social.

Para promover a mobilidade, é preciso investir na educação de qualidade (ODS 4), desenvolver políticas que garantam, por exemplo, que todas as crianças tenham o mesmo acesso a recursos e oportunidades. A ênfase na aprendizagem ao longo da vida também é importante para ajudar os jovens a adquirir competências à medida que surgem novas profissões.

É preciso também melhorar ainda mais a eficácia do gasto público, principalmente na educação e saúde; o acesso e a qualidade do ensino profissional; e a redistribuição dos recursos arrecadados pelo governo. Investir em transporte público (mobilidade urbana) de qualidade também favorece a mobilidade social.

Conclusão  

A mobilidade social pode acontecer ao longo do tempo, à medida que os indivíduos passam de uma posição para outra em razão de várias interações sociais. Essa mudança traz benefícios às pessoas, que motivadas por diferentes fatores da sociedade, trabalham para alcançar novos papéis que lhes ofereçam um melhor padrão de vida e melhores benefícios. 

Podemos destacar que quanto mais estratificada é uma sociedade, mais difícil se torna o processo de mobilidade social. Para saber mais sobre um dos fatores que influenciam nessa mudança, leia nosso artigo e conheça tudo sobre o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal.

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